Quando a gente chega na fase adulta, precisamos atualizar a imagem que construímos dos nossos pais ao longo da vida. Se desfazer da ideia dos pais que você criou na infância e adolescência provavelmente é o que vai fazer a sua relação com eles melhorar muito. É o que vai permitir perdoá-los por qualquer ferida que eles tenham te causado. Nossos pais estavam, provavelmente, fazendo o melhor que eles podiam, com base no que eles sabiam, quando nos criaram.
Eu não sou mãe, mas imagino que ter um filho seja uma das experiências mais assustadoras do mundo. Se já é difícil a gente se responsabilizar por nós mesmos, ter maturidade suficiente para lidar com os nossos próprios problemas, imagina ser responsável pela vida de um outro ser. Uma vida que você gerou e que agora depende de você pra ser mantida.
Foi muito importante pra mim pensar sobre isso em relação aos meus pais porque fez com que eu conseguisse entendê-los melhor. E ao invés de ficar guardando rancor e mágoa pelos eventos desagradáveis que aconteceram no nosso passado, eu comecei a olhar para eles com mais compaixão.
Isso me ajudou a ultrapassar a fase onde eu culpabilizava meus pais e passar para a fase onde eu consigo entender essas experiências passadas como causa dos padrões que moldam as minhas experiências presentes. Só que agora eu tenho escolha. A responsabilidade é minha, eu sou adulta. Não são mais meus pais que escolhem por mim, não são eles que irão se responsabilizar pelo meu bem-estar e felicidade. Eu não sou uma criança. Então, eu posso escolher continuar agindo dessa ou daquela maneira. Porque quando ficamos na fase da culpabilização, isso só faz com que a gente se acomode nos padrões ao invés de superá-los.
A gente usa a famosa "a culpa é dos meus pais" como uma desculpa pra continuar fazendo tudo igual e ainda por cima ocupar o papel de vítima. É o combo completo. Mas se a gente for radicalizar esse pensamento, a culpa nunca é nossa, a culpa é sempre do mundo, não é mesmo? É do vizinho que não limpa a bosta do cachorro da calçada, é daquela professora que te humilhou na frente da turma toda, é do(a) ex, é do do governo, é do aquecimento global, é do Elon Musk. E no fundo, a gente sabe que não é bem assim.
Você não está frustrada(o) com a sua carreira, com o seu relacionamento ou com a sua aparência porque o Elon Musk está querendo levar os bilionários todos pra morar num condomínio em Marte enquanto a gente implode o planeta Terra. Você está experimentando essas crises porque a vida é assim, ela coloca um monte de obstáculos na nossa frente não para nos aprisionar, mas para que a gente aprenda a superá-los e amadureça. E se você fosse bilionário(a) talvez estivesse experimentando uma crise existencial da mesma forma que o Musk - enviando foguetes pro espaço - ou seja, fugindo da responsabilidade.
Culpar os pais é igual enviar um foguete para o espaço - é fugir dos problemas.
Assim como nós, os nossos pais também estão amadurecendo, crescendo, mudando. Eles já não são os mesmos que nos criaram. Só que a gente sustenta essa imagem defasada deles porque acredita ser mais cômodo. Porém, quando a gente começa a ver os nossos pais como eles realmente são agora, inevitavelmente, vai chegar o momento “Fudeu, quem tá sabotando tudo sou eu”. Essa é a fase onde você culpa demais a si mesmo(a) - que também não adianta coisa nenhuma, mas muita gente fica presa nela.
Se você for corajoso(a) suficiente para olhar para si e começar a se responsabilizar (o que é muito diferente de se culpar), você finalmente vai sair da inércia e colocar seu motor pra funcionar (com você no comando). E não vai ser em direção a Marte! Vai ser na direção da sua liberdade (e dos seus pais).
Então, se tem um conselho que eu possa dar a partir disso é o seguinte: libere seus pais aí! Deixe que eles vivam sem ter que carregar esse fardo das suas frustrações. Eles já têm as frustrações deles pra carregar. Talvez, inclusive, ainda estejam culpando os próprios pais por elas.